Atenção para o desafio: um,
dois, três e... Não pense em um elefante cor-de-rosa! Conseguiu? Duvido muito.
A razão para um rechonchudo elefante cor-de-rosa aparecer automaticamente em
sua mente é a mesma pela qual crianças pequenas têm dificuldade em obedecer a
“nãos” variados: o cérebro ativa automaticamente suas representações de
“elefante cor-de-rosa”, “por a mão na tomada”, pular-do-muro” ou
“atravessar-a-rua” toda vez que ouve essas palavras.
Quando são precedidas por um
“não”, o córtex pré-frontal entende que deve impedir a execução dos programas
respectivos, mas como o pré-frontal infantil nem sempre consegue fazer isso, o
“não pule!” vira um convite ao desastre. Como evitá-lo e conseguir que uma
criança não faça o que não deve?
A dica da neurociência é
tirar partido da própria ativação automática de idéias e aprender a usá-la a
seu favor. Isso requer algum treino, é verdade, mas você tem muito mais chances
de conseguir que uma criança não pule do muro alto se você fizer o seu córtex
pré-frontal – o seu, leitor, já crescidinho – conter o impulso de gritar “Não
pule!” para, ao invés disso, dizer “Fique bem quietinho!” enquanto você se
aproxima.
Devido justamente à ativação
automática dos programas motores, é muito mais fácil conseguir com uma ordem,
que uma criança faça algo inofensivo, como ficar parada, do que obter de seu
córtex pré-frontal controle suficiente para não fazer algo perigoso.
Aproveitar a facilidade do
cérebro infantil para dizer “sim” resolve até problemas mais inofensivos do
dia-a-dia, como minha irmã uma vez demonstrou. Uma tarde, quando nada mais
convencia minha filha de três anos a largar brinquedos para entrar na banheira,
minha irmã resolveu o problema convidando-a, em sua voz mais animada, de olhos
arregalados, dando pulinhos e batendo palmas de alegria e excitação, como se
aquela fosse uma oportunidade ímpar: “tive uma idéia: vamos tomar banho? Vamos?
Vamos???”. Ela foi.
Ser positivo e sugerir às
crianças o que elas podem fazer, ao invés da besteira do momento, é mais
agradável e menos frustrante para todo mundo do que lutar com negações,
principalmente quando as alternativas permitidas são atraentes e interessantes.
Deixo aqui, então, um convite ao leitor: experimente usar o seu córtex
pré-frontal, já maduro, para não dizer “Não faça!” à sua criança e, ao invés
disso, ofereça-lhe coisas que ela possa fazer.
Ajude o cérebro de seu filho
a dizer “Sim!”.
Suzana
Herculano- Housel
Suplemento
Equilíbrio_Folha de São Paulo
29 de março 2007
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2903200706.htmAtendimentos no Espaço Nascente, com a Pedagoga Adriana dos Santos Vignone.
Informações:
espaconascente@gmail.com
(11) 3672-6561 / 2548-6383