Com Quatro Meses, Meu Bebê Pegou no Peito
Rafael nasceu numa noite chuvosa de quinta-feira. Por condição, não por escolha, veio ao mundo por cesariana. Parecia um querubim de tão quietinho e silencioso. Para mim, ser mãe significava, essencialmente, sentir as dores do parto e amamentar. Infelizmente, não me foi possível realizar nem uma coisa nem outra. Até que ele completou quatro meses e sugou meu peito pela primeira vez.
Após o nascimento, no Centro Cirúrgico da Maternidade de Brasília, a enfermeira colocou Rafael no meu peito. Ele deu uma ou duas sugadas e largou. Ela fez massagem e para se certificar que eu tinha colostro. Tinha – e muito!!! Mas e o bico? Onde estava ele? Era plano. As opiniões sobre o bico eram unânimes: sim, eu conseguiria amamentar. Mas Rafael não pegava.
No quarto, as enfermeiras tentavam colocar o bebê em posição de amamentação e nada acontecia. Levavam 20 ml de fórmula pra ele, que era tomada num copinho. E o meu leite lá, jorrando... Aprendi a ordenhar ali mesmo na maternidade. Retardei minha alta em um dia para tentar fazê-lo pegar no peito. Não adiantou.
Saí da maternidade com a indicação de procurar o banco de leite, aonde ia três vezes por semana. Fui orientada a fazer a translactação a cada mamada, com sondinha, seringa e esparadrapo grudado do peito. Antes, deveria colocar uma luva e massagear o céu da boca do Rafael para ensiná-lo a sugar. Meu marido comprou uma bomba elétrica, para facilitar a ordenha.
Durante 29 dias, minha rotina era essa. Tentava por meia hora, oito vezes ao dia. Rafael chorava muito. Não conseguia sugar a ponto de esvaziar a seringa. No final, acabava dando o meu leite no copinho. Como estava ganhando pouco peso, a pediatra indicou entrar com fórmula. Num sábado, após chorar por 12 horas e conversar com minha terapeuta, percebi que não podia mais com aquilo. Ninguém estava feliz. Nem eu, nem meu marido, nem Rafael. O principal era ele ser alimentado com meu leite. Fazia sentido. Aos prantos, coloquei um bico de mamadeira na boca do meu bebê, que sugou rapidamente. Simples assim. Depois, ele dormiu, sem choro. Talvez, estivesse feliz. Mas eu não.
Na última consulta ao banco de leite, conversei com as técnicas, que me apoiaram. Elas reconheceram que eu tinha tentado muito. Foi bom não ter sido julgada por não ter insistido mais. A chefe do banco de leite, falou para eu não desistir e continuar a oferecer o peito a ele. Foi o que fiz. Sem nenhuma esperança, mas fiz.
Durante os três meses seguintes, Rafael foi crescendo saudável e risonho. A mamadeira tornou-se uma aliada. Prática e rápida. Era possível controlar a quantidade de leite ingerida. Eu ordenhava de 6 a 8 vezes por dia. Acordava às 3h pra ordenhar. Tomava remédio para aumentar a produção. Volta e meia eu oferecia o peito. Ele sugava uma ou duas vezes e largava. Que peito pode competir com o bico da mamadeira? Nem sabia o porquê de continuar oferecendo.
Eis que, no quarto mês, aconteceu. Numa noite de sábado, meu bebê sugou peito por 40 minutos. Não acreditei. Desde então, passou a rejeitar o bico da mamadeira. Rafael quer peito. Muito tempo perdido. Ao escrever este relato, ele está prestes a completar 8 meses. Dorme e acorda no peito. Mama passando a mão no meu rosto. Desconheço a quantidade de leite que ele ingere. A pega não é boa. O bico fica cheio de fissuras. Elas curam de um lado e sangram de outro. É desconfortável. Dói muito. Muito. Vou tratar de resolver isso... O mais importante de tudo é que agora amento. Estamos felizes.
Beijos,
Simone Alves das Flôres